Netflix Progressista e o Problema do Streaming
É cada vez mais opinião comum que a Netflix tem um conteúdo ultra genérico e chato. O serviço parece incapaz de produzir qualquer coisa realmente instigante ou divertida faz anos. O motivo é simples: a companhia não tem uma identidade própria para cativar expectadores tal qual a Disney Plus ou HBO. A falta de "algo a dizer" está no cerne dos problemas que a empresa de streaming trouxe.
Quando uma corporação precisa desesperadamente parecer interessante, recorre ao que podemos chamar de identitarismo. Trata-se de uma forma de enrolar e não falar nada, mas ainda manter seu status no mercado. É o modo mais chulo de criação de individualidade, tão cobiçada para diferenciação de marca. Identitarismo soa mais ou menos assim: "Como ousa não gostar de mim, falo de trans, pretos e deficientes!" É como um adolescente rebelde tentando se mostrar relevante ao fingir que se preocupa com causas maiores.
Netflix produz o que parecem milhares de séries e filmes por semana para tentar competir com um segmento de mercado cada vez mais competitivo que ela própria consolidou (o streaming). O desespero é tanto que cria seus conteúdos somente através dos dados que coletam, ao invés da criatividade de suas equipes de produção. Ou seja, rastreiam seu tempo de tela, quais conteúdos dão mais engajamento, etc. Eles descobriram que te dar sempre algo novo, mesmo que mais do mesmo, te mantém na plataforma, então fizeram isso. Nenhum respeito pelas obras que estão produzindo.
O problema é que, a longo prazo, ninguém tem mais interesse nesses produtos, pois a verdade é que... Não valem nada.
Tais criações são uma espécie de conversa retroalimentativa. "Do que você gosta?" "Disso, disso e disso". "Então toma exatamente isso, isso e isso". É como tentar adivinhar o pensamento nebuloso da cabeça do expectador e filma-lo.
Não é um conteúdo que acrescenta em nada sua visão de mundo, pois só consegue te entregar o que você já viu, o que já estava na sua mente. É como conversar consigo mesmo. Ver o próprio reflexo. É manipulativo e inútil. Ninguém quer de fato ver isso, não tem graça.
Então, justificam o que fazem com um "somos importantes e artísticos pois temos RepresentatividadeTM".
Não é assim que se faz arte.
Enquanto isso, outros serviços de streaming também se valem de suas identidades para se venderem, além da produção infinita de ideias que todo mundo já viu. Contudo, essas ideias, essas identidades, são heróis Marvel, Princesas, séries antigas famosas, etc.
A Netflix não tem marcas consolidadas, então sobram "negros, mulheres, LGBTQIAXYZ+++, etc". Quando não é isso, é "filme de comédia pastelão", "filme família de esportistas formando um time e vencendo no esporte", microgêneros de filmes que todo mundo já viu.
Sendo assim, podemos afirmar que é mais grave os problemas de identidade da Netflix em relação aos seus concorrentes. Entretanto, de fato a tendência de todos os streamings é ficarem cada vez mais desesperados à medida em que percebem que seu novo modelo de mercado só se sustenta em cima de criações já produzidas anteriormente. Por isso, passam a usar formas de coerção emocional para manter as pessoas assistindo. Cada vez mais você vai ouvir de qualquer streaming "todo mundo deveria ter a obrigação de ver esse filme, é sobre um não-binário periférico negro que se superou".
Não apenas coerção emocional, mas também real já está ocorrendo. Em países desenvolvidos, já faz parte da grade escolar e do treinamento de trabalhadores da rede pública aprender sobre espectro de gênero, sobre condutas antirracistas no ambiente de trabalho, sobre diversidade e inclusão. Já é de praxe demitir pessoas com opiniões erradas em mídias sociais, bem como abrir processos policiais contra pessoas que disseram na internet votar em tal candidato ou terem participado de certa manifestação, como se essas coisas fossem crime. Isso tudo já está acontecendo. Falta muito pouco para se tornar obrigatório se posicionar a favor de certos assuntos nas midias, sob pena de demissão ou multa. Será "Ou você se posiciona sobre determinado assunto, ou é demitido". Afinal, todos temos que "fazer nossa parte!!" para ajudar o mundo.
"Fazer nossa parte" significa consumir produtos de oligopólios desesperados não importa o quê.
Afinal, se conseguem te obrigar a viver de certa forma, vão te obrigar a se educar sobre o assunto para conseguir "fazer sua parte". Assim, você precisará assistir mais conteúdos sobre as identidades inventadas deles para sentir que está "se educando" sobre a importância dessas "identidades".
Nem preciso dizer que isso não tem nada a ver de fato com o abuso específico que negros, indígenas, mulheres, deficientes, etc sofrem, tem a ver com a obrigatoriedade de sinalização virtual de ser um membro das pessoas boas, amorosas, com compaixão. Trata-se de abusar do desejo natural de gentileza e bondade que habita nas pessoas para criar uma demanda de mercado. Um falso jogo de construir um mundo melhor que só serve mesmo para construir um consumidor fiel e aterrorizado a comprar. Um culto extremista em que a conduta deve exemplar, sob grandes penas. Isso não é progresso.
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